Entendendo o TDAH na perspectiva de Russell A. Barkley
- Camila Mello Santos
- 16 de dez. de 2024
- 3 min de leitura

A perspectiva de Russell A. Barkley, médico e psicólogo(PHD), um dos maiores estudiosos do tema Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) se alinha em muitos aspectos ao DSM-5, mas também oferece complementações importantes, especialmente em relação às funções executivas e à desregulação emocional. Vamos comparar as duas abordagens:
1. Definição do TDAH
DSM-5:O DSM-5 define o TDAH como um transtorno neurodesenvolvimental caracterizado por padrões persistentes de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade, que interferem no funcionamento ou desenvolvimento.
Critérios diagnósticos envolvem sintomas que devem estar presentes por pelo menos 6 meses, aparecerem antes dos 12 anos e afetarem pelo menos dois contextos (casa, escola, trabalho).
Russell A. Barkley: Barkley concorda com essa definição, mas acrescenta que o TDAH é essencialmente uma desordem de autocontrole e funções executivas. Ele argumenta que o transtorno afeta a capacidade do indivíduo de gerenciar o tempo, planejar, organizar e regular emoções, indo além dos sintomas comportamentais listados no DSM-5.
2. Subtipos e Classificação
DSM-5:O manual classifica o TDAH em três apresentações principais:
Predominantemente desatento.
Predominantemente hiperativo/impulsivo.
Combinado (quando ambos os grupos de sintomas estão presentes).
Russell A. Barkley: Barkley critica a separação dos subtipos como desatualizada. Ele sugere que as diferenças são mais quantitativas do que qualitativas. Em sua visão, todos os indivíduos com TDAH têm problemas centrais de desregulação comportamental e emocional, e a apresentação pode variar ao longo do tempo ou conforme o contexto.
3. Foco nas Funções Executivas
DSM-5: Embora o DSM-5 reconheça a dificuldade de planejamento e organização como parte dos sintomas de desatenção, ele não enfatiza as funções executivas como base do transtorno.
Russell A. Barkley:Barkley coloca as funções executivas no centro do entendimento do TDAH. Ele argumenta que o transtorno afeta processos fundamentais como:
Inibição comportamental.
Memória de trabalho.
Regulação emocional.
Planejamento e organização.

Para Barkley, o TDAH é, em essência, um transtorno de autocontrole, em que a dificuldade em inibir comportamentos afeta a capacidade de prever consequências e atingir metas de longo prazo.
4. Desregulação Emocional
DSM-5:O DSM-5 menciona dificuldades emocionais, como impulsividade e frustração, mas não inclui a desregulação emocional como critério diagnóstico principal.
Russell A. Barkley: Barkley destaca que a desregulação emocional é uma característica central, mas subestimada, do TDAH. Ele observa que pessoas com TDAH têm maior sensibilidade emocional, o que afeta suas relações, trabalho e qualidade de vida. Para ele, isso deveria ser um critério diagnóstico formal.
5. Impacto ao Longo da Vida
DSM-5:O DSM-5 reconhece que o TDAH pode persistir na vida adulta, mas ainda há uma visão clínica focada principalmente em crianças e adolescentes.
Russell A. Barkley: Barkley enfatiza que o TDAH é um transtorno ao longo da vida. Ele ressalta que, em adultos, o transtorno pode se manifestar de maneira diferente, com menos hiperatividade física e mais problemas relacionados a procrastinação, organização e regulação emocional.
6. Tratamento e Manejo
DSM-5:Recomenda uma abordagem multimodal, incluindo:
Medicamentos (estimulantes ou não).
Terapia comportamental.
Intervenções no ambiente escolar ou no trabalho.
Russell A. Barkley: Barkley apoia o tratamento multimodal, mas acrescenta a importância de educar pais, professores e indivíduos com TDAH sobre a natureza do transtorno. Ele acredita que a psicoeducação sobre as funções executivas e estratégias específicas de manejo podem fazer uma grande diferença no sucesso do tratamento.
Conclusão
O DSM-5 fornece uma estrutura diagnóstica baseada em sintomas observáveis.
Russell A. Barkley amplia essa visão, propondo que o TDAH seja entendido como um transtorno mais profundo, afetando a capacidade de planejamento, regulação emocional e autocontrole.
REFERÊNCIAS
Barkley, Russell A., Picon, Felipe Almeida, Rosa, Sandra Maria Mallmann. (2023)Tratando Tdah Em Crianças E Adolescentes. O que Todo Clínico Deve Saber.
Barkley, R. A. (2020)Taking Charge of ADHD: The Complete, Authoritative Guide for Parents
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